domingo, 20 de fevereiro de 2011

O apagão de engenheiros



Censo de profissionais deve mostrar gargalos na quantidade de mão de obra, que pode ameaçar crescimento

A falta de profissionais das áreas de engenharia e tecnologia pode ameaçar a escalada do crescimento econômico do país. O sinal vermelho foi aceso no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Em parceria com o Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura (Confea), o Mdic vai fazer um censo específico nos estados para identificar a quantidade o perfil dos profissionais de tecnologia. A ideia é montar um banco de dados que poderá ser consultado pelas empresas de acordo com a demanda de pessoal especializado. As entidades de classe querem garantir a oferta de mão de obra, para evitara invasão de estrangeiros no mercado de trabalho.
Os estrangeiros vêm dos países europeus, como a Espanha, dos Estados Unidos, da Ásia e da Argentina. A crise econômica freou os investimentos e provocou uma onda de desemprego nos outros continentes. Como o Brasil tem forte demanda de mão de obra e falta de profissionais no mercado, o Mdic tem recebido oferta de profissionais qualificados do exterior. “A carência de mão de obra ultrapassa a disponibilidade do mercado nacional e não há expectativa para formar profissionais em curto prazo”, confirma Marcos Túlio Melo, presidente do Confea.
Ele adianta que a proposta encaminhada ao Mdic tem como objetivo fazer um censo dos profissionais de engenharia e tecnologia, aproveitando a estrutura do Confea, dos Conselhos Regionais de Engenharia (Creas), do IBGE e do Ipea. O mapeamento vai permitir montar um perfil dos engenheiros com registro nos conselhos. Serão levantados dados como: formação profissional, prática de exercício da profissão, experiência, nível de especialização e se trabalha atualmente na área.
A partir do censo será identificada a carência de mão de obra e como podem ser supridas as necessidades do mercado. “Hoje, assistimos a entrada de profissionais estrangeiros porque nos países de origem não têm emprego”, diz Melo. Segundo dados do Confea, em 2010 triplicou o registro de profissionais estrangeiros no país, de 115 processos anuais para cerca de 400.
Além da demanda quantitativa existe a falta de qualificação na mão de obra local. O presidente do Confea defende que o censo sirva de base para montar cursos de capacitação e atualização dos profissionais da área de tecnologia com a participação das universidades, escolas técnicas e das empresas. Em sua opinião, o governo deveria firmar convênios de mão dupla com esses países, para trazer cérebros que possam melhorar o nível de conhecimento.

Carência nos estados

A carência de profissionais da área de tecnologia é sentida em todos os estados. Em Pernambuco, o estrangulamento é maior por conta das obras de construção civil que pipocam na região de Suape e nos municípios do interior, como a ferrovia Transnordestina e a transposição do Rio São Francisco. Segundo levantamento do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-PE), existe um déficit anual de 3 mil profissionais. Para atender a demanda do pais, seria necessária a formação de 40 mil engenheiros por ano.
Com tanta procura a profissão de engenheiro civil está em alta. As oportunidades de trabalho surgem de todos os lados. Formado em 1997 pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o engenheiro civil Waldyr Barros de Carvalho, de 56 anos, não tem do que reclamar. Ele conta que ao concluir o curso não havia mercado de trabalho para engenheiros. Vez ou outra prestava serviços para grandes e médias empresas de construção. Decidiu abrir uma empresa para atuar na área de reformas de imóveis.
Há dois meses ele foi contratado para assumir a obra de ampliação da fábrica da Votorantim em Maria Farinha, Paulista. “Hoje, o mercado de trabalho está aquecido, mas os salários ainda podem melhorar por conta de demanda”. Waldyr está conciliando o emprego na construtora com as atividades da empresa. Ele conseguiu a colocação através do banco de talentos do Crea-PE.
“A carência de engenheiros é geral no país, mas em Pernambuco é maior porque o estado se transformou num canteiro de obras”. Constata o presidente do Crea-PE, José Mário Cavalcanti. Ele explica que ainda é baixa a procura pelos cursos da área tecnológica nas universidades pernambucanas. A forte pressão do mercado tem puxado os salários dos engenheiros para cima.

Reportagem do Diário de Pernambuco de 03/02/11
Por Rosa Falcão