Um acordo de cooperação técnica nas áreas de desenvolvimento territorial, tecnologias de convivência com o semiárido, pesca e manejo florestal entre o Governo do Estado e os países do Equador e Costa Rica. Esse é um dos resultados da realização, na Bahia, até sexta-feira (28/10), do VI Fórum Internacional de Desenvolvimento Territorial (click e saiba mais sobre o evento).
O evento reúne mais de 400 participantes de todo o Brasil e representantes do Uruguai, Paraguai, Argentina, Equador, Costa Rica, Colômbia, Bolívia, Nicarágua e Espanha e é promovido pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (Ilca), por meio do Fórum de Desenvolvimento Rural Sustentável (DRS) e de parceiros como a Secretaria do Planejamento do Estado da Bahia (Seplan) e dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário e de Minas e Energia, o encontro tem como público-alvo membros de colegiados territoriais, atores sociais, gestores públicos e entidades de fomento do Brasil e dos demais países latino-americanos.
De acordo com o chefe de gabinete da Seplan, Benito Juncal, a Bahia é referência nacional em políticas de desenvolvimento territorial e o evento possibilita ampliar a visibilidade destas experiências. “O nosso objetivo é replicar a construção de um modelo de desenvolvimento sustentável e participativo, tendo os Colegiados Territoriais como espaço de articulação e integração entre as organizações da sociedade civil, os movimentos sociais e o poder público”.
O representante do Ilca, Manuel Otero, destacou que a união dos países presentes no Fórum para reduzir a pobreza é um passo importante para conseguir romper esse ciclo vicioso. “É preciso políticas de inclusão sócioprodutiva. Se ao final do evento, elaborarmos algumas e compartilharmos em nossos países já teremos cumprido parte do nosso objetivo”.
Encontro – Na abertura do evento, na terça-feira à noite, no Grand Hotel Stella Maris, em Salvador, a socióloga e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Tânia Bacelar, abordou o modo exitoso como o Brasil, nos últimos anos, associou as políticas sociais e econômicas.
A discussão foi ao encontro ao objetivo do Fórum, que é promover o intercâmbio e a difusão das experiências dos países da América Latina no enfrentamento da pobreza, em especial, a rural, e também como discutir as estratégias de inclusão sócio-produtiva.
Bacelar ressaltou que o conceito de inclusão sócio-produtiva é mais amplo do que a inserção via mercado de trabalho e os países devem atentar para isso. “Devemos considerar as iniciativas que inserem o cidadão por meio da renda, a exemplo das políticas sociais, via serviços básicos como o acesso a saneamento, educação, e energia elétrica. Pó fim por intermédio da iniciativa produtiva, com destaque para a agricultura familiar e a economia solidária”.
Entre os avanços, a professora destacou que o próprio debate sobre inclusão sócio-produtiva é um ganho. “O que movimenta a economia mundial é a financeirização, onde os ativos mundiais em aplicações financeiras alcançam US$ 860 trilhões, enquanto que na esfera produtiva, que são as indústrias, fazendas e estabelecimentos comerciais, o valor é de apenas US$ 60 trilhões. Isso significa “que é possível ganhar bilhões sem gerar nenhum emprego. Basta apostar em uma ação ou na valorização de uma determinada moeda”.
Modelo de Desenvolvimento - A socióloga delineou o passo a passo de como o Brasil combinou política social com política econômica. A dinamização do consumo partiu de políticas sociais de transferência de renda que conseguiram, simultaneamente, elevar a renda das famílias e gerar demanda popular por bens dos setores modernos, a exemplo de automóveis, televisores e máquinas de lavar.
Com a ampliação do crédito abriu-se um leque de oportunidades de negócios. A política econômica estimulou o investimento em máquinas e inovação, bem como a elevação da produtividade, competitividade e exportações.
Dois exemplos combinados da política social e econômica são o Bolsa Família e a aumento progressivo do salário mínimo. A socióloga enfatizou que apesar da maior parte dos beneficiários do Bolsa Família estar no Nordeste, muitos desconhecem que 25% deles se concentram no Sudeste, que concentra a maioria das periferias urbanas. “A mudança na renda não muda só a vida da pessoa. Ela desperta a inclusão da população na vida social e econômica do país”.
Entre as “ousadias” do governo, Tânia citou o aumento do salário mínimo, que melhorou a capacidade de compra das pessoas. “Apesar de termos juros altos, os brasileiros não se preocupam com isso, só com o tamanho das prestações”.
Nas décadas de 50 e 60, o Brasil era a China de hoje. Vinte anos depois, o país se tornou a oitava maior e mais diversificada base industrial do mundo. Ao apresentar esses dados, Tânia enfatizou que nessa época não restavam dúvidas do potencial econômico do país. Porém, no lado social, o Brasil era completamente diferente.
“Dois terços da população estavam excluídos, em posições comparáveis com os países pobres. Só perdia para Honduras e Serra Leoa”, disse Tânia. O Brasil deixou de ser vulnerável às mudanças mundiais. Em 2002, a inflação anual chegava a 12,5%. Em 2010, atingiu a marca de 5,6%. Nesse mesmo período, as exportações também saíram de 60 para 202 bilhões de dólares.